Voar de Balão - o sonho ...

Os balões de competição levam geralmente apenas o piloto, no máximo mais outra pessoa. O qual, durante o voo, conta apenas com seus conhecimentos acerca dos elementos da natureza, os quais precisa saber dominar e tem apenas controle de possibilidades de subida e descida reguladas pela intensidade do calor gerado pelo seu equipamento à gás de lança chamas. O seu destino é direcionado pelos ventos, então sempre é uma aventura, onde sabe-se o ponto de decolagem, mas o ponto de descida fica condicionado às variáveis climáticas e capacidade de domínio desenvolvida pelo piloto. Daí ser uma prática radical e ser necessário se contar com uma equipe de resgate.

O festival em Torres acontece num espaço, praticamente dentro da cidade, chamado Parque do Balonismo, onde há também um lugar onde acontece uma feira com produtos regionais e artesanatos e também alguns brinquedos estilo parque de diversão. Onde se tem então, um grande colorido e grande movimento, além daquele no céu com os balões, também na terra, com o vai e vem das crianças, jovens, adultos e idosos.

As pessoas aproveitam para saborear pratos típicos da região, se entretem com as atrações de voos panorâmicos de helicóptero, ou assistindo show de paraquedismo, mas a grande expectativa mesmo é a de poder ver aqueles magníficos balões no ar...

E não é para menos, pois os balões além de sua beleza peculiar são bastante grandes e de certo modo “temperamentais”, não sendo a qualquer hora que se deixam ver em sua magnificência. Depende-se muito das condições atmosféricas, sendo que geralmente apenas bem cedinho ao amanhecer ou em fins de tarde que se tem condições mais favoráveis de voo. Então nunca se sabe com exatidão se haverá possibilidade de acontecer voos ou não, o que dá uma aura de suspense e expectativa que torna o acontecimento mais envolvente...

Neste festival em especial, aconteceu de em nenhum dos 4 dias de provas ter condições excelentes, quase comprometendo a realização de todas as provas da competição que são feitas com balões menores. E com isso a possibilidade dos voos panorâmicos com os balões maiores, que levam até 12 passageiros, não aconteceu... deixando muitos pretendentes muito frustrados....

É que mesmo sendo teoricamente uma época do ano mais propícia, aconteceu de se ter ventos muito intensos, além de muito gelado. O que dificultou por demais. Foi só já no terceiro dia de festival, num final de tarde, com muita insistência por parte das equipes que se conseguiu inflar os balões com ar quente e deixá-los em exposição para que se pudesse admirá-los, mesmo que apenas em voo cativo, levemente suspensos do chão, presos às camionetes de resgate.

O que foi muito bonito de acompanhar de perto. Naquela fria tarde de ventos cortantes, finalmente depois de grande luta dos balonistas, conseguiu-se assistir parte do espetáculo, que é direcionada ao público presente.

Pois quando o vento “amansou”, como que domado, já escurecia e aí maravilhosamente os “gigantes” de ar foram se erguendo, numa comunhão de ar e fogo. O que foi um maravilhoso espetáculo! Pois o lança chamas que aquece o ar “jogado” para dentro dos balões por potentes ventiladores, acaba por iluminar o balão por dentro, conferindo-lhe uma transparência luminosa de bonito efeito! Lindo!

É, mas tínhamos o sonho de poder voar, carregados naquele charmoso cesto, como que “aninhados” ali, carregados a passear pelos ares... Íamos todos os dias verificar junto à equipe responsável, as condições atmosféricas, que nos prometia que no último dia do festival bem cedinho, certamente iria dar certo.

Assim, depois de três dias de expectativa, apesar do frio que fazia, levantamos de madrugadinha para 06h20 estarmos lá no parque para finalmente realizarmos o sonho...

Saímos de nosso lugar de hospedagem, ainda escuro, num misto de alegria e nervosismo. Chegamos lá, pegamos as credenciais e entramos campo de decolagem adentro, meio que não acreditando ainda que em um daqueles maravilhosos balões que estavam sendo inflados, iríamos realizar a desejada aventura!

Ficamos por ali aguardando, até percebermos um movimento de indefinição dos pilotos. Nisto fomos chamados a reunirmos com os demais grupos de passageiros. Acreditávamos que seria para receber instruções de procedimentos de segurança durante o voo. Mas, o que não deixou de ser instruções de segurança, só que eram sobre quando NÃO voar. O que gerou uma consternação geral, só aplacada quando o experiente piloto, além de contar quão desastroso pode ser o pouso de um gigante daqueles com ventos fortes, fez a seguinte colocação: “mais do que se ter o imenso desejo de voar quando se está no chão, é o desejo de estar no chão quando se está voando em condições desfavoráveis”!

Sábia verdade! Aquilo não só acalmou nosso sentimento de frustração, como nos ajudou a perceber quantas vezes na vida não sabemos respeitar as limitações que independem de nossa vontade...

Assim ficamos em segurança no chão, na intenção de quem sabe, numa outra oportunidade realizar o sonho tão desejado...

                                                                                                                         Marisa Clausen.