Passei nos três últimos anos, por situações de mudanças na minha vida que me foram muito difíceis, por conta de eu estar demasiadamente arraigada num modelo de funcionamento, que criei por acreditar que aquilo era o certo e que assim seria amada e respeitada por todos aqueles que me conheciam ou viessem a me conhecer....
E assim vivi por longos 56 anos... algumas vezes insatisfeita, insegura e infeliz... mas quando assim me sentia, eu acreditava que era por causa de eu não estar fazendo alguma coisa direito!!! Tal como toda criança.
Até que os muros construídos que sustentavam este meu ego ainda tão infantil, ruíram... e meu mundo desabou e eu junto... desesperada corria para lá, corria para cá. Só escuridão e medo!!!
Agora, saída do fundo do meu poço existencial, com muitas ajudas de amigas, de minhas irmãs, psicoterapia, inúmeras leituras e trabalho interno de reconstrução de mim com trabalhos de constelação familiar e do maravilhoso pathwork; me vejo na espera...
Olho para todos os lados esperando encontrar a resposta de quem realmente sou. Contudo, me dou conta que como uma criança ingênua ainda durmo. Durmo o sono da Alice ou pior ainda, o da Bela Adormecida embalada em meus sonhos e devaneios ...
Até que, literalmente num sonho, num cochilo de uma tarde chuvosa e fria de uma sexta feira qualquer, sou beijada e ganho a possibilidade de acordar em mim.....
O sonho:
“... estava-se sentados entorno da bancada da cozinha, quando ao comentar que eu ainda não conhecia o jovem recém chegado e não conseguindo ver direito o seu semblante, me movo para tentar vê-lo melhor, e com isto passo muito próxima deste outro, que eu ainda não havia percebido a presença...
Este outro, estando sentado meio que só apoiado na banqueta, dá espaço para que eu me aproxime por entre suas pernas e encoste meu rosto no seu rosto, num gesto insinuante e provocativo num movimento embalado pela música que tocava no rádio sempre ligado... Este por sua vez, no embalo sugerido pela melodia quase de um bolero, me puxa com suavidade para a sala contígua, onde havia mais espaço, e eu imagino que iria me conduzir a dançar...
Quando me dou conta este pára na minha frente, onde percebo melhor sua imponente presença. Só vejo sua boca vindo em direção a minha, e este me beija com desejo. Penso, puxa eu nem escovei os dentes ... mas a sensação era muito boa. E eu não me importei... nem mesmo se os demais presentes estavam vendo o que acontecia, parecia ser tão natural o que se passava e que assim fosse , daquele beijo acontecer...
Sinto sua saliva adentrar minha boca. Num primeiro momento me incomodei com aquilo, depois pensei, ah.. deixe estar... e as salivas se misturaram e como que voltaram para boca dele, enquanto a sensação de tudo aquilo era muito suave e prazerosa... e eu passava a mão firmemente por sua nuca entre seus cabelos ...
Como num faltar o fôlego, descolei minha boca da sua boca e o ar revigorante me preencheu os pulmões em arfadas que fez tremer o meu corpo todo e eu segurei forte em seu braço esquerdo, encostando minha cabeça em seu peito... enquanto este falava palavras de surpreendimento e agradabilidade quanto ao beijo acontecido, numa língua desconhecida mas que me faziam sentido, enquanto eu pensava ousadamente... ’ isto que não vistes o que mais sou capaz...’
Vejo de soslaio o rapaz aquele recém chegado, que passa por ali sem se importar com a cena. E logo em seguida no mesmo angulo ao fundo, vejo aquele que foi meu marido por tantos anos... entrando pela porta dos fundos carregando algumas caixas, colocando-as no chão... viro o rosto para outro lado e já não me importo mais... Agora este é o meu novo lugar... entre estes outros braços.”
O acordar:
Literalmente acordo do sono que dormia no aconchego da cama agora vazia...
Acordo e me dou conta que os personagens deste sonho, são imagens de meu ego: o antigo e o novo e que eu me encontrei e fui beijada por meu Eu Superior. Por esta que eu sou agora! Esta que está sem ser vista, por esta outra em mim que simplesmente espera e procura fora... Me dou conta que eu já sou minha nova possibilidade de ser! Só que me escondo atrás do medo de não me sentir aceita...
Acordo para meus medos... minhas culpas imensuráveis de existir com todas minhas características, maneira de ser e estar, de ter vindo para este mundo, de ter nascido... Culpas e mais culpas criadas por mim mesma ao acreditar que sou responsável por tudo o que me cerca e que por isto mesmo me desdobro e me exijo fazer do melhor modo possível, numa tentativa de controle infernal!!!
Sim, infernal!!! Pois é impossível! É irreal!!! Pois a vida é o que é.... independente de eu ficar mentalmente controlando tudo e todos a minha volta...
Descubro agora que só sou culpada, quando não me ocupo de mim... quando me abandono e não me vejo, me deixando sem cuidados, sem disciplina...
Paro, largo tudo... me troco e vou enfim caminhar. Talvez, agora como a criança que tendo tido oportunidade de se exercitar em seus domínios, sai seguramente por aí, fazendo o seu caminho pelo mundo!
M.A. 28/08/2018
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Maggie (viernes, 01 marzo 2019 16:29)
Acompanhando maravilhada.